sexta-feira, 30 de março de 2007

Sonhos desiguais

Eles são trabalhadores. Média de idade 17-18 anos. Transitam de um lado para o outro, sempre em duplas ou grupos. São garotos e garotas. A grande maioria ostenta um sorriso triste, um olhar perdido e o andar cansado. São operários e vivem aqui perto. A face judiada denuncia a dura vida que levam. Imagino que muitos deles devem sustentar sua família. As meninas demonstram nos acessórios e no modelo da camisa sua vaidade, muitas exibem a barriga, totalmente fora de forma. Os meninos levam o andar cansado, moldado em um jeans surrado e um boné na cabeça. O sonho da educação, por ali, termina mesmo no ensino médio e, provalmente, graças ao incentivo da empresa. Faculdade... nem é sonho - "Muito caro para mim".

Na dura jornada de trabalho, que é regida pelo tic-tac do relógio, eles correm para terminar os "chicotes". Peça usada na parte elétrica dos automóveis. Galpões separados de acordo com o cliente. É preciso terminar a encomenda, entregar o material no prazo. Ali, quem não cumpre meta entra na reta.

Observo. Entendo então o significado da desigualdade. Seria o mesmo que ser analfabeto vivendo junto a um professor. A peça fabricada pelos jovens é fundamental para o funcionamento de um carro. Sem ela, o carro não anda. Sem eles, a peça não existe. A peça viaja quilometros para chegar ao seu destino final e, então, anda por quilometros fazendo a felicidade do proprietário do veículo. Os jovens vão do ônibus, bicicleta, moto... se for carro não é aquele na qual a peça feita por eles foi colocada. Sim... pois a peça em questão pertencerá a um carrão, destes de muitos mil reais, novinhos em folha, modernos, tecnológicos.

Se pela cabeça deles mal passa a idéia do curso superior, quem dirá a da aquisição do carrão. Frustrante. Talvez não. Pois na falta da instrução necessária os jovens do chão de fábrica mal conseguem observar e questionar sua força. Ele mal conseguem sonhar com uma viagem à praia, cercado de amigos, ouvindo um som bacana a bordo do carro novo. Aliás, sonhar, neste caso, é apenas alguma coisa que acontece quando a gente dorme.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Calcinha, calçolas, tangas e um pé de meia


Que atire a primeira pedra aquela que não tem uma calcinha favorita.
Pois eu dúvido que exista uma mulher que não tenha uma calcinha preferida. E ainda faço um desafio, se a sua calcinha favorita é a mesma favorita do seu bonito então, por favor, me escreva.
Porque, cá entre nós, a calcinha que eles costumam gostar é justamente aquela que mais aperta ou aquela que insiste em entrar naquele espacinho e, assim, meio que indiscretamente, faz a gente caminhar rebolando.


Eu tenho uma teoria. Homem não entende muito de calcinha. Pra eles quase não existe diferença entre tanga e calçola, entre as feitas em algodão, lycra ou renda. É tudo calcinha e, se é pra ser da preferência nacional, que seja "enfiadinha". Afinal, cueca não tem muita variação. Os modelos navegam entre a tradicional zorba ou uma charmosa samba-canção, normalmente feitas em algodão e em um modelo que fica confortavelmente alinhado ao corpo. Sem o risco de "enfiadinhas".


Pois é... confesso que tenho as minhas preferidas. Normalmente de algodão, cheias de desenho ou coloridas. Tem uma com o elástico meio bambo, outra que nem tem elástico. Mas é tão difícil me desfazer delas. Fico lá, na frente da gaveta, olhando, separando os modelos, tento classificar por cor, tecido, coloco de lado as que devem ser retiradas da batalha. Suspiro e dou mais uma chance para a calcinha. Lembro que quando era mais nova, minha mãe costuma recomendar que não usássemos calcinhas furadas e nem velhas. Segundo ela, a gente nunca sabe o que pode acontecer e - sinal da cruz - vai que você é atropelada ou passa mal na rua e precisa ir para o hospital bem no dia que está usando uma calcinha "estragada".


Pensando nisso, sempre segui as recomendações dela. Ali, na minha área íntima. No espaço no qual, geralmente, compartilho com a calcinha meus segredos. Não vou passar vergonha e nem vou deixar a minha calcinha passar por isso.


Me preocupei tanto com a calcinha que acabei descuidando da meia. Certo dia, na época da faculdade, teve festinha. Bebi todos os tipos de vinho que tinha e, passado um certo tempinho de festa, acabei passando do ponto e dormi no sofá... não bem assim.. na verdade fui parar no sofá carregada pelos meus queridos amigos, que na ansia de cuidarem da minha falta de consciência momentânea tentaram me deixar bem confortável.


O problema veio quando retiraram a minha bota e ali, bem no dedão do pé direito .. estava o meu desleixo. Ai... e minha mãe avisou tanto. O fatídico dia que algo poderia acontecer finalmente chegou. Eu estava preparada, usava uma bela calcinha, mas a meia ... justo a meia.. tinha um furo imenso. Dedo de fora. Fiquei gripada.

terça-feira, 27 de março de 2007

A manhã de Luana

Luana chegou esbaforida ao trabalho. - "Pensei que não chegaria a tempo", disse ela, enquanto buscava um copo d'água. Foi estranho, porque a moça é pontual, aliás, normalmente ela chega antes da hora, perfumada e toda arrumada.

Hoje foi diferente. A Luana chegou em cima da hora. Cara suada. O sol a pino do lado de fora, me indicou a correira para que batesse o ponto na hora. - "Nossa menina, juro que hoje achei que não chegaria na hora. Se eu te contar.. você não acredita tudo que eu fiz hoje".

Bom... confesso, talvez não acreditasse mesmo. Luana era cheia de estórias do dia, da noite, da tarde. Sempre fazia algo diferente e, pelo tom de sua voz, o que vinha a seguir não me surpreenderia. Sentei. Acendi um cigarro. Fiquei a espera de sua fala.

_ "Olha só. Acordei cedo. Dei uma ajeitadinha na casa porque não estava me sentindo bem. Liguei no jornal, só pra ouvir as notícias. Daí fui lavar roupa. Putz... muita roupa. Resolvi engrenar e fazer almoço, mas daí tive que correr até o supermercado. Sorte minha, porque o sabão em pó não daria para duas máquinas" - pausa - Luana tomou um gole d'água. - "Então, como eu ia dizendo... fui até o supermercado, não comprei quase nada, mas lá se foram cem reais.. meu CEM RE-A-IS.. tem noção??? É um puta dinheiro pra uma comprinha mixuruca. Aposto que os produtos de limpeza encareceram.." - pausa - mais um gole. - "Voltei do super, e daí a máquina já tinha terminado as primeiras roupas. Estendi tudo e coloquei a segunda tantada para bater... (rs).. nem eu acredito que fiz isso", parou.

Eu ali, prestando a maior atenção e Luana parava para dar risada. Sua estórinha da manhã, comum a tantas mulheres, era para ela uma glória, algo novo, um compromisso desnecessário e satisfatório. E, então, vem a confissão.

- "Ouuu.. a manhã foi punk. Quando eu olhei no relógio já era meio dia, faltava começar o almoço, eu tinha que tomar banho e estar aqui agora", falou tentando encurtar a estória. É, porque a Luana quando conta alguma coisa faz questão de se ater em mínimos detalhes, tipo, a sensação que ela tem ao fazer ou participar de algo. Ela é daquelas pessoas que além de transmitir o ocorrido, conta também a sensação, o cheiro do ar.

- "Bom.. pra resumir. Corri com o arroz e coloquei umas coisas no forno para assar. Lavei a salada. Neste meio tempo, guardei as compras, chequei a agenda da semana e, então.. fui acordar o bonito que, de-ta-lhe, neste tempo todo não levantou nem com o barulho ensurdecedor da máquina na hora de centrifugar a roupa", daí a Luana fez uma cara engraçada, torcendo a boca.

O chamado "bonito" é o marido da Luana. Gente boa ele, mas não levanta cedo, nem se a casa explodir. Por isso mesmo ela faz aquela cara toda vez que fala sobre isso. E ela prossegui, já preocupada com os telefones que começavam a berrar em nosso escritório.

- "O fato é que, enquanto eu terminava a comida e deixava meu uniforme ok para o trabalho, ele levantou, tomou banho e ficou todo lindo perfumado. Nestas alturas.. eu fui pro banho. Sai, troquei de roupa, almoçamos.. levantei, estendi a roupa da segunda máquina, ajeitei a pia e então.. quando estava me aprontando para sair, orgulhosíssima do que consegui fazer pela manhã, em um espaço de três horas e meia, vem o bonito para me apressar", e fez novamente a boca torta.

Luana caiu na risada. A situação rotineira para tanta mulher era para ela uma vitória. Trocará deliciosas horas a mais na cama, por uma manhã de dona de casa. Luana provavelmente ria porque sabia que as atividades não fazem parte de sua rotina, que não fez por obrigação. A casa vai bem sem seu empenho. Mas hoje ela quis fazer. Foi um compromisso. A Luana decidiu mudar de atitude, agitar a rotina, ter novos compromissos, cuidar mais do que é seu.

- "Sabe... foi muito trabalho para zero de reconhecimento. Tenho pena das mulheres que vivem para sua casa, marido e filhos e, ainda assim, são taxadas de desocupadas. Acho que tenho mais pena ainda daquelas como nós... tem a casa, o marido, os filhos e o trabalho. Caracas.. como a gente dá conta de tudo isso???" - refletiu minha amiga. Pelo olhar, a mim lançado, senti que Luana previu o futuro. Desconcertada abriu seu caderno, fez algumas anotações e ....

- "Tá certo. Vamos trabalhar. O dia é longo e tem muita coisa para fazer". Fim de papo.

G.David

segunda-feira, 26 de março de 2007

Sampa


Aí que cidade grande.
Aí que cidade bagunçada.
Aí que cidade movimentada.
Aí que cidade nova.
Aí que cidade encantadora.
Aí que cidade desesperadora.

Ali estava.
Perdida entre esquinas.
Embriagada com o movimento. Tudo diferente.
Escolhendo o que fazer.

Aí que cidade de contraste.
Aí que cidade no plural.
Aí que cidade.. cheia de cidades.
G.David

sexta-feira, 23 de março de 2007

Feliz Aniversário


CantoFlorVivência completa hoje UMA SEMANA!!!


Com textos correntes e, a meu ver, coerentes.
Me abri nestas linhas e me proponho a continuar fazendo isso.


CantoFlorVivência é minha maneira de cuidar da cabeça, estravazar o que me incomoda, destacar o que aconteceu. A idéia é uma ótima solução pra quem, no momento, não tem nem grana e nem tempo pra ir a uma terapia. Embora reconheça que já tá na hora.

Confesso que, na semana passada, tinha certeza que não seria assídua. Pensei que só teria uns primeiros textos e pronto. Daí caíria na rotina, um hoje, outro mês que vem e, de repente, o comunicado: "Excluímos seu blog". Legal... uma semana já é um tempo bom. Me sinto inspirada a continuar.

Viva o Canto;
Viva a Flor;
Viva a Vivência.....

Ou melhor... VIVA.

G.David

quinta-feira, 22 de março de 2007

Uma simples viagem


Era manhã. O céu estava fosco. Nós três juntas a caminho de mais um trabalho. Iamos pra uma cidade diferente. Pouco visitada por nós. Atenção no caminho. Mas tínhamos algo a celebrar, pela primeira vez nos reunimos sem o telefone tocar. Aquela inocente viagem de trabalho seria muito mais que isso, de certa forma, nos mostraria traços em comum, histórias iguais. Senti que uma forte amizade nasceria entre às 9h30 e 13 horas.

Aos poucos nos apresentávamos uma para a outra. O papo começou com a organização de um casamento: data, decoração, igreja, noivo, casa nova, móveis, planos. Depois ficou mais sério: relacionamentos, cobranças, posições familiares, filhos, casa, carreira, ciúmes, direitos, dinheiro, tristezas e alegrias. As vezes eu me afundava na poltrona, pensava - "Ai meu deus! Não pode ser verdade"; em outros momentos respirava aliviada - "não acontece só comigo". Nos tormamos iguais e diferentes. Cada caso, o mesmo caso. Mas ali éramos o antes, o durante e o depois. Três momentos de uma mesma decisão.

Nossos olhos fixos na estrada. Rimel, sombra, baton. Na forma da camisa, o desenho feminino. O desenho que alimenta, que gera, o desenho que encanta, balança. O desenho do nosso poder. Temos conflitos sim. Vontade de fugir, de morrer de rir, jornada que só termina na hora de dormir. Mas lá estávamos nós, olho na estrada, cabeça pra frente. Era mais um dia de trabalho. No jogo da vida, somos mais sábias. A gente opta pela felicidade.

Esta manhã não será como outra qualquer.
Esta manhã eu vou guardar no meu coração, na minha memória, na minha história.
Nesta manhã eu entendi o papel da maça.
Entendi que as diferenças vão além do físico.
São mentais, carnais, são diferenças banais. CULTURAIS.


G.David



quarta-feira, 21 de março de 2007

Eu sou Rica

Que não me interpretem mal os gananciosos.
Eu sou rica sim, mas não de dinheiro.

Sou rica porque tenho amigos, amigos do peito, amigos "de fé, irmãos, camaradas".
Tenho em quem confiar e sou "de confiança" para muita gente.
Confio confidências, segredos, amores, dores.
Me confiam o mesmo, me fazendo importante e fundamental.
Sou feliz com todos. Me fazem feliz todos.

Tenho os amigos de infância, os amigos do tempo de escola,
os amigos da vida, os amigos da praia, as companheiras amigas de república,
minhas amigas da "rede".
Eu tenho até o privilégio de ter amigas iguais.

Tenho três amigos especiais - duas meninas e um menino.
Amigos de sangue e sobrenome, que me acompanham na vida,
com os quais já briguei muito e agora tenho saudades,
que estão por perto nas datas especiais, dividem a ceia do Natal e crescem.

Tenho amigos que me dão medo, por serem sinceros.
Tenho amigos que estão longe, outros muito perto.
Tenho amigos com quem não falo mais, por diferenças da vida, mas que se fazem presente.
Tenho amigos em outras línguas e culturas.

Amigos... me fazem rica.
Rica em conhecimento, rica de carinho e importância.

Pena tenho daqueles que não têm amigos,
Pois nada melhor que uma conversa que vara a madrugada,
um porre bem zuado, um chocolate dividido, uma cozinha cheia de louça, uma mentirinha inocente, gargalhadas sem motivo, carona na madrugada, "Dancing Queen" na faxina, travesseirada na cara, canga na praia, viagem "bixo-grilo", cachoeira acompanhada etc, etc...

Obrigada moçada.
Por vocês.. sou milionária.

terça-feira, 20 de março de 2007

De poucas palavras

O dia hoje está nublado.
Nublado como os pensamentos que não saem da minha cabeça.
Estou cansada. Muito.
Cansada demais
até para impor minhas vontades e brigar pelo que eu penso correto.

Direitos? Mulheres?
Se já conquistamos tanto, por que ainda nos falta?
Por que nossos cargos não são os melhores?
Por que o que dizemos não é ouvido?
Por que nossos salários são menores?
Por que as tarefas não são divididas?
Por que ainda nos escravizamos?

É março. Mês das mulheres.
Ricas somos nós. Que aceitamos e vivemos sorrindo.
E nem o direito à fúria temos.
Porque pensamos no amanhã e arriscar demais é coisa de homem.


G.David

segunda-feira, 19 de março de 2007

Pra onde vamos Maria?


Maria tem 29 anos e não sabe bem o que quer.
Coisa típica dessa idade. Será?


Quando eu era criança achava - "achava" não, fantasiava.

Quando eu era criança .. fantasiava que ao me tornar adulta as coisas seriam mais fáceis. Não teria de obedecer as regras, hora de ir pra escola, hora de estudar, hora de brincar, hora de comer, hora de ver tv, hora do banho etc ... Tinha a impressão que quando fosse a "dona" do meu nariz tudo seria diferente. Quem faria minhas horas seria eu, mais nínguem. Naquela época eu também fantasiava que o mundo iria acabar no ano 2000, achava que o Jhonny Depp se apaixonaria por mim, tinha certeza que o ABBA era formado por quatro mulheres e pretendia escrever um livro antes de completar 12 anos.



De criança virei pré-adolescente. Não escrevi o livro. Foi difícil. Já adolescente sentia que não me encaixava bem, meu peito cresceu rápido, minha menstruação foi a última da turma a vir e os meninos por quem eu me apaixonava estavam sempre afim das minhas amigas. Bom.. daí eu nem sei bem quando foi que deixei de ser adolescente e virei adulta. Só sei que já sou adulta, afinal pago imposto, faço supermercado, lavo roupa, cozinho, descobri que não sou o tipo do Jhonny Depp e o ABBA era formado por dois casais.


Adoro minhas liberdades, mas as de criança eram melhores. Nesta sociedade contemporânea lôca, na qual padrões mudam de um ano pra outro, ser adulto significa "se virar nos trinta". Meu Deus.. Maria faz 30 anos ano que vem.


A gente tem que ganhar dinheiro, ficar bonita, cuidar da carreira - leia-se, estar constantemente atualizada para não ficar pra traz no voraz mercado -, cuidar da casa, da família e, ainda, se realizar pessoalmente. Putz... que difícil!.


Confesso.. não tá fácil. Maria, Maria... e agora?


A idade das cobranças chegou. E sua vida parece que empacou.

Não tenho soluções para te ajudar. Só nos resta pensar, pensar. Seria mais fácil com pó de pirlimpimpim. Seria mais fácil sair voando por aí, viver de brisa, olhar pro mar antes de dormir. Mas não é assim.



Olha pra frente Maria. CantoFlorVivência.


Ser adulta não significa se encaixar às regras. Cumprir o ponto. Acordar e dormir. Responsabilidades todos temos, obstáculos também. Quero só achar o meu caminho na estrada. Bem agora estou na "forca" da encruzilhada: direita ou esquerda?


Acho que vou pelo meio.

Você vem Maria?


G.David

domingo, 18 de março de 2007

Hoje é domingo

Semana difícil.
Cheia de novidades.
Revi minha amiga do coração,
cantei parabéns no primeiro aniversário do filho dela.
A vida tá passando.

Dois dias em São Paulo.
Chuva forte, dia de rodízio, Otto na garagem.
Cabras, bodes e ovelhas.
Dois milhões por um animal.
Cheiro forte.

Volta pra casa.
Trabalho parado, atrasado.
Cuidar daqueles que cuidam de nós.
Correr para entregar peças no prazo.
Começou o ponto eletrônico.

Em casa uma bagunça.
Não nos acertamos.
Cada um do seu lado.
Eu quero preto, ele quer branco.
E agora?

sábado, 17 de março de 2007

Tempo


O fluxo obriga
qualquer flor
a abrigar-se em si mesma
sem memória.


O fluxo onda ser
impede qualquer flor
de reinventar-se em
flor repetida.

O fluxo destrona
qualquer flor
de seu agora vivo
e a torna em sono.

O universofluxo
repele
entre as flores estes
cantosfloresvidas.

__ Mas eis que a palavra
cantoflorvivência
re-nascendo perpétua
obriga o fluxo

cavalgo o fluxo num milagre
de vida.

Orides Fontela

sexta-feira, 16 de março de 2007

Obrigada Orides!



A flor, doce, nasce e cresce
murcha e morre...

A menina corre e esquece,
tropeça e cai...

Sempre menina, mas agora mulher
Levanta e anda
A vida não pára.

.....

Orides Fontela era sanjoanense.
Assim como viveu, morreu. Só...zinha.
Me salvou.

"CantoFlorVivência" é meu NÃO ao "fluxo", à mesmice das coisas paradas, da rotina desvairada, que não deixa a gente crescer, criar, viver e "murchar" sem perder a graça.

"CantoFlorVivência" é um protesto, minha homenagem à escritora doce e áspera, que com palavras se expôs ao mundo. E agora, aqui, trago também meus devaneios por vezes pirados, irados, velados....

"CantoFlorVivência" começa hoje. AGORA!

G.David