sexta-feira, 30 de março de 2007
Sonhos desiguais
Na dura jornada de trabalho, que é regida pelo tic-tac do relógio, eles correm para terminar os "chicotes". Peça usada na parte elétrica dos automóveis. Galpões separados de acordo com o cliente. É preciso terminar a encomenda, entregar o material no prazo. Ali, quem não cumpre meta entra na reta.
Observo. Entendo então o significado da desigualdade. Seria o mesmo que ser analfabeto vivendo junto a um professor. A peça fabricada pelos jovens é fundamental para o funcionamento de um carro. Sem ela, o carro não anda. Sem eles, a peça não existe. A peça viaja quilometros para chegar ao seu destino final e, então, anda por quilometros fazendo a felicidade do proprietário do veículo. Os jovens vão do ônibus, bicicleta, moto... se for carro não é aquele na qual a peça feita por eles foi colocada. Sim... pois a peça em questão pertencerá a um carrão, destes de muitos mil reais, novinhos em folha, modernos, tecnológicos.
Se pela cabeça deles mal passa a idéia do curso superior, quem dirá a da aquisição do carrão. Frustrante. Talvez não. Pois na falta da instrução necessária os jovens do chão de fábrica mal conseguem observar e questionar sua força. Ele mal conseguem sonhar com uma viagem à praia, cercado de amigos, ouvindo um som bacana a bordo do carro novo. Aliás, sonhar, neste caso, é apenas alguma coisa que acontece quando a gente dorme.
quarta-feira, 28 de março de 2007
Calcinha, calçolas, tangas e um pé de meia
terça-feira, 27 de março de 2007
A manhã de Luana
Hoje foi diferente. A Luana chegou em cima da hora. Cara suada. O sol a pino do lado de fora, me indicou a correira para que batesse o ponto na hora. - "Nossa menina, juro que hoje achei que não chegaria na hora. Se eu te contar.. você não acredita tudo que eu fiz hoje".
Bom... confesso, talvez não acreditasse mesmo. Luana era cheia de estórias do dia, da noite, da tarde. Sempre fazia algo diferente e, pelo tom de sua voz, o que vinha a seguir não me surpreenderia. Sentei. Acendi um cigarro. Fiquei a espera de sua fala.
_ "Olha só. Acordei cedo. Dei uma ajeitadinha na casa porque não estava me sentindo bem. Liguei no jornal, só pra ouvir as notícias. Daí fui lavar roupa. Putz... muita roupa. Resolvi engrenar e fazer almoço, mas daí tive que correr até o supermercado. Sorte minha, porque o sabão em pó não daria para duas máquinas" - pausa - Luana tomou um gole d'água. - "Então, como eu ia dizendo... fui até o supermercado, não comprei quase nada, mas lá se foram cem reais.. meu CEM RE-A-IS.. tem noção??? É um puta dinheiro pra uma comprinha mixuruca. Aposto que os produtos de limpeza encareceram.." - pausa - mais um gole. - "Voltei do super, e daí a máquina já tinha terminado as primeiras roupas. Estendi tudo e coloquei a segunda tantada para bater... (rs).. nem eu acredito que fiz isso", parou.
Eu ali, prestando a maior atenção e Luana parava para dar risada. Sua estórinha da manhã, comum a tantas mulheres, era para ela uma glória, algo novo, um compromisso desnecessário e satisfatório. E, então, vem a confissão.
- "Ouuu.. a manhã foi punk. Quando eu olhei no relógio já era meio dia, faltava começar o almoço, eu tinha que tomar banho e estar aqui agora", falou tentando encurtar a estória. É, porque a Luana quando conta alguma coisa faz questão de se ater em mínimos detalhes, tipo, a sensação que ela tem ao fazer ou participar de algo. Ela é daquelas pessoas que além de transmitir o ocorrido, conta também a sensação, o cheiro do ar.
- "Bom.. pra resumir. Corri com o arroz e coloquei umas coisas no forno para assar. Lavei a salada. Neste meio tempo, guardei as compras, chequei a agenda da semana e, então.. fui acordar o bonito que, de-ta-lhe, neste tempo todo não levantou nem com o barulho ensurdecedor da máquina na hora de centrifugar a roupa", daí a Luana fez uma cara engraçada, torcendo a boca.
O chamado "bonito" é o marido da Luana. Gente boa ele, mas não levanta cedo, nem se a casa explodir. Por isso mesmo ela faz aquela cara toda vez que fala sobre isso. E ela prossegui, já preocupada com os telefones que começavam a berrar em nosso escritório.
- "O fato é que, enquanto eu terminava a comida e deixava meu uniforme ok para o trabalho, ele levantou, tomou banho e ficou todo lindo perfumado. Nestas alturas.. eu fui pro banho. Sai, troquei de roupa, almoçamos.. levantei, estendi a roupa da segunda máquina, ajeitei a pia e então.. quando estava me aprontando para sair, orgulhosíssima do que consegui fazer pela manhã, em um espaço de três horas e meia, vem o bonito para me apressar", e fez novamente a boca torta.
Luana caiu na risada. A situação rotineira para tanta mulher era para ela uma vitória. Trocará deliciosas horas a mais na cama, por uma manhã de dona de casa. Luana provavelmente ria porque sabia que as atividades não fazem parte de sua rotina, que não fez por obrigação. A casa vai bem sem seu empenho. Mas hoje ela quis fazer. Foi um compromisso. A Luana decidiu mudar de atitude, agitar a rotina, ter novos compromissos, cuidar mais do que é seu.
- "Sabe... foi muito trabalho para zero de reconhecimento. Tenho pena das mulheres que vivem para sua casa, marido e filhos e, ainda assim, são taxadas de desocupadas. Acho que tenho mais pena ainda daquelas como nós... tem a casa, o marido, os filhos e o trabalho. Caracas.. como a gente dá conta de tudo isso???" - refletiu minha amiga. Pelo olhar, a mim lançado, senti que Luana previu o futuro. Desconcertada abriu seu caderno, fez algumas anotações e ....
- "Tá certo. Vamos trabalhar. O dia é longo e tem muita coisa para fazer". Fim de papo.
G.David
segunda-feira, 26 de março de 2007
Sampa
sexta-feira, 23 de março de 2007
Feliz Aniversário
CantoFlorVivência completa hoje UMA SEMANA!!!
Com textos correntes e, a meu ver, coerentes.
CantoFlorVivência é minha maneira de cuidar da cabeça, estravazar o que me incomoda, destacar o que aconteceu. A idéia é uma ótima solução pra quem, no momento, não tem nem grana e nem tempo pra ir a uma terapia. Embora reconheça que já tá na hora.
Confesso que, na semana passada, tinha certeza que não seria assídua. Pensei que só teria uns primeiros textos e pronto. Daí caíria na rotina, um hoje, outro mês que vem e, de repente, o comunicado: "Excluímos seu blog". Legal... uma semana já é um tempo bom. Me sinto inspirada a continuar.
Viva o Canto;
Viva a Flor;
Viva a Vivência.....
Ou melhor... VIVA.
quinta-feira, 22 de março de 2007
Uma simples viagem
São mentais, carnais, são diferenças banais. CULTURAIS.
quarta-feira, 21 de março de 2007
Eu sou Rica
Eu sou rica sim, mas não de dinheiro.
Sou rica porque tenho amigos, amigos do peito, amigos "de fé, irmãos, camaradas".
Tenho em quem confiar e sou "de confiança" para muita gente.
Confio confidências, segredos, amores, dores.
Me confiam o mesmo, me fazendo importante e fundamental.
Sou feliz com todos. Me fazem feliz todos.
Tenho os amigos de infância, os amigos do tempo de escola,
os amigos da vida, os amigos da praia, as companheiras amigas de república,
minhas amigas da "rede".
Eu tenho até o privilégio de ter amigas iguais.
Tenho três amigos especiais - duas meninas e um menino.
Amigos de sangue e sobrenome, que me acompanham na vida,
com os quais já briguei muito e agora tenho saudades,
que estão por perto nas datas especiais, dividem a ceia do Natal e crescem.
Tenho amigos que me dão medo, por serem sinceros.
Tenho amigos que estão longe, outros muito perto.
Tenho amigos com quem não falo mais, por diferenças da vida, mas que se fazem presente.
Tenho amigos em outras línguas e culturas.
Amigos... me fazem rica.
Rica em conhecimento, rica de carinho e importância.
Pena tenho daqueles que não têm amigos,
Pois nada melhor que uma conversa que vara a madrugada,
um porre bem zuado, um chocolate dividido, uma cozinha cheia de louça, uma mentirinha inocente, gargalhadas sem motivo, carona na madrugada, "Dancing Queen" na faxina, travesseirada na cara, canga na praia, viagem "bixo-grilo", cachoeira acompanhada etc, etc...
Obrigada moçada.
Por vocês.. sou milionária.
terça-feira, 20 de março de 2007
De poucas palavras
segunda-feira, 19 de março de 2007
Pra onde vamos Maria?
domingo, 18 de março de 2007
Hoje é domingo
Cheia de novidades.
Revi minha amiga do coração,
cantei parabéns no primeiro aniversário do filho dela.
A vida tá passando.
Dois dias em São Paulo.
Chuva forte, dia de rodízio, Otto na garagem.
Cabras, bodes e ovelhas.
Dois milhões por um animal.
Cheiro forte.
Volta pra casa.
Trabalho parado, atrasado.
Cuidar daqueles que cuidam de nós.
Correr para entregar peças no prazo.
Começou o ponto eletrônico.
Em casa uma bagunça.
Não nos acertamos.
Cada um do seu lado.
Eu quero preto, ele quer branco.
E agora?
sábado, 17 de março de 2007
Tempo
O fluxo onda ser
impede qualquer flor
de reinventar-se em
flor repetida.
O fluxo destrona
qualquer flor
de seu agora vivo
e a torna em sono.
O universofluxo
repele
entre as flores estes
cantosfloresvidas.
__ Mas eis que a palavra
cantoflorvivência
re-nascendo perpétua
obriga o fluxo
cavalgo o fluxo num milagre
de vida.
sexta-feira, 16 de março de 2007
Obrigada Orides!
murcha e morre...
A menina corre e esquece,
tropeça e cai...
Sempre menina, mas agora mulher
Levanta e anda
A vida não pára.
.....
Orides Fontela era sanjoanense.
Assim como viveu, morreu. Só...zinha.
Me salvou.
"CantoFlorVivência" é meu NÃO ao "fluxo", à mesmice das coisas paradas, da rotina desvairada, que não deixa a gente crescer, criar, viver e "murchar" sem perder a graça.
"CantoFlorVivência" é um protesto, minha homenagem à escritora doce e áspera, que com palavras se expôs ao mundo. E agora, aqui, trago também meus devaneios por vezes pirados, irados, velados....
"CantoFlorVivência" começa hoje. AGORA!
G.David