sexta-feira, 4 de maio de 2007

Escolha


É tarde. Já passou o horário do ponto. Ela continua de branco, indicando que está na labuta.
Seus olhos se perdem num misto de cansaço, dever cumprido e curiosidade. Ela anseia chegar em casa, esticar as pernas, uma taça de vinho e conversa a tôa para jogar fora. Ainda não dá. Falta pouco para terminar aquela pequena tarefa.

Enquanto observa, seus olhos se perdem no infinito induzidos por pensamentos diversos sobre o que fazer. É real sua insatisfação. O tempo está passando e ela não se encontra. Queria estar em casa, mas está no trabalho. Queria o cabelo curto, mas insiste em deixá-lo crescer. Queria trocar de carro, mas o dinheiro não dá. Queria ter uma loja, mas mantém-se fiel ao trabalho da carteira. Sente-se perdida, encurralada. Já não é mais uma jovem recém-formada, mas sua cabeça ferve de idéias e propostas ditas à surdos... Ela está cansada.

Num instante pensa em fugir. Visitar amigas distantes, não contar para ninguem. _ "Um final de semana wild não seria nada mal". Ela percebe, preciso me re-encontrar. Olha em volta, pessoas falando, fumaça no ar... e ele.

ELE - o cara. O cara que a faz pensar e raízes. O cara que dá mão, a faz rir, aquece na noite fria. Simplesmente o cara. Ela reluta em aceitar, mas sente-se confortável ao lado dele; sente-se querida, mulher, importante. A dúvida aperta e dói. Sobe o nó, aquele que fica preso na garganta. Seus olhos ficam mareados. _ "Não é nada. Estou cansada e com sono", justifica as lágrimas.

Ela sente que está chegando a hora de escolher e sofre com a dor da escolha. Qual caminho quer seguir. Arriscar, ser uma profissional brilhante e sozinha; tentar os sonhos de juventude. Ou ficar, criar raízes, deixar um sonho por outro, ter família, aguentar ciúmes, trabalhar menos. Seus atos parecem ser observados. Ela sente a pressão. O-pressão. _ "Me deixem. Me esqueçam. De mim cuido eu"; pensa.

Final do expediente. Ponto passado. Horas extras. Esta noite ela vai passar sozinha: ela, o vinho e seus pensamentos.
G.David

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